Estamos cansados. Cansados de tantas coisas iguais e da expectativa de outras que ainda desconhecemos. Estamos vivendo numa velocidade alucinante e quando paramos, ainda ficamos conectados. Dormimos pouco e mal. Nossa alimentação é engolida no intervalo de tempo entre uma coisa e outra. Fazer atividade física com regularidade? Depende das inúmeras prioridades que a antecedem ou a anulam. Ao final do dia ou mesmo nas segundas-feiras, estamos reféns de um cansaço estranho.
Existem aqueles que se cansam porque fazem muito, outros porque pouco cumprem dos afazeres assumidos. Se não ficarmos atentos, seremos levados por um fluxo contínuo no qual quase tudo é urgente e instantâneo. Nesta rotina de sincronias, parece que não podemos desligar, ficar sem sinal de wi-fi, sem bateria e sem conexão.
Podemos cansar de muitas coisas. Dos engarrafamentos, dos barulhos altos, das filas de espera, dos atendimentos eletrônicos de 0800. Cansar de esperar encontrar alguém que nos aquiete e nos convide a uma outra conversa com a vida. Há diversas formas e intensidades de cansaço. Há quem cansou de esperar pela vida, outros por temerem a morte. Há quem se lançou ao amor e quem perdeu as esperanças.
Às vezes me assusto. Às vezes me preocupo. Às vezes me procuro. Estamos diante e dentro de uma experiência limite do cansaço. E sinto que o fato de darmos conta disso, não nos motiva o suficiente para assumirmos uma outra rotina.
E se a partir de hoje escolhermos fazer algo diferente? Ir dormir um pouco mais cedo, deixar descansar sobre os lençóis parte dos anseios de velocidade? Se pararmos alguns segundos para olhar para o que decidimos comer e depois mastigarmos bem lentamente? Se não buzinarmos ao primeiro sinal de lentidão no trânsito? E se pararmos por alguns minutos mais, para ver o céu mudar as cores enquanto o sol desce no horizonte? Se cada dia escrevermos ou ligarmos para alguém que não vemos há muito?
Não é muito seguro seguir sem parar para (re)conhecer como estamos agindo. Existe algo estranho em nós, que é como se não estivéssemos mais no mundo, mesmo que existamos nele porque estamos vivos.
Algumas maneiras de lidar com o tempo precisam mudar, senão corremos o risco de sermos consumidos. O corpo não suporta tamanho frenesi e passa a dar sinais de esgotamento. Um cansaço recorrente das coisas mesmas.
Tatiana Passos Zylberberg
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